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O Evangelho do futuro

Marta Antunes
Trabalhadora espírita vinculada à Federação Espírita Brasileira desde 1980. Supervisora do programa “O Evangelho Redivivo” – Brasília (DF).

 

A íntegra da referida mensagem consta do livro A caminho da luz, capítulo 25, publicado pela FEB Editora em 1939. Trata-se de uma obra que deveria ser estudada reflexivamente pelos espíritas, na qual Emmanuel traça uma linha histórica dos acontecimentos que marcaram a cultura e civilização da humanidade terrestre, analisando as causas e as consequências das escolhas humanas. A caminho da luz não se limita a um apanhado de dados históricos, ainda que relevantes, como bem informa o seu autor:

[…] Dando seguimento aos nossos estudos, procuremos esforçar-nos para mostrar a verdadeira posição do Evangelho do Cristo, tanta vez incompreendido aí no mundo, em face das religiões e das filosofias terrenas.1

Em seguida, afirma:

Não deverá ser um trabalho histórico. A história do mundo está compilada e feita. Nossa contribuição será à tese religiosa, elucidando a influência sagrada da fé e o ascendente espiritual, no curso de todas as civilizações terrestres. […] nosso esforço consistirá, tão somente, em apontamentos à margem da tarefa de grandes missionários do mundo e de povos que já desapareceram, esclarecendo a grandeza e a misericórdia do divino Mestre. […].2

Passados oitenta e cinco anos da publicação original, constatamos dois pontos fundamentais que repercutem nos dias atuais com significativo impacto: a atualidade do texto psicográfico e a lentidão da melhoria moral humana, ainda que o Espírito benfeitor tenha afirmado, à época:

Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos “ais” do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade.3

A mensagem O Evangelho e o futuro apresenta a seguinte sequência de ideias, muito bem concatenadas entre si:

  • Breve introdução – Emmanuel faz referência ao escorço histórico que ele desenvolveu no livro, demonstrando “[…] os laços eternos que ligam todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta”.4
  • Processo civilizatório na Terra – a mensagem possui cerca de várias ideias principais, desdobradas secundariamente em outras: como esforço de síntese, selecionamos dez conteúdos, os quais serão analisados, em seguida. Entretanto, não podemos deixar passar o alerta transmitido pelo benfeitor, relacionado com respeito aos agentes envolvidos no processo evolutivo do planeta:

Muita vez, o palco das civilizações foi modificado, sofrendo profundas renovações nos seus cenários, mas os atores são os mesmos, caminhando, nas lutas purificadoras, para a perfeição daquele que é a luz do princípio.5

  • Conclusão – o fechamento da mensagem fala das dolorosas mudanças previstas quando do encerramento de um ciclo civilizatório na Terra; mas, também, acena com a esperança do surgimento de uma Nova Era, de paz e amor, com Jesus:

Todos somos chamados ao grande labor e o nosso mais sublime dever é responder aos apelos do Escolhido. Revendo os quadros da História do mundo, sentimos um frio cortante neste crepúsculo doloroso da civilização ocidental. Lembremos a misericórdia do Pai e façamos as nossas preces. A noite não tarda e, no bojo de suas sombras compactas, não nos esqueçamos de Jesus, cuja misericórdia infinita, como sempre, será a claridade imortal da alvorada futura, feita de paz, de fraternidade e de redenção.6

O processo civilizatório da Terra 7

  1. Primórdios da evolução na Terra: ambientação do homem no planeta
    Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente conduzido às atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza para a solução do problema vital, mas houve um tempo em que a sua maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da Grécia e pelas organizações romanas.
  2. A vinda do Cristo: o maior acontecimento histórico da Humanidade
    Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior acontecimento para o mundo, uma vez que o Evangelho seria a eterna mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino luminoso de Jesus, na hipótese da assimilação do homem espiritual, com respeito aos ensinamentos divinos. […].
  3. Deturpação da mensagem do Cristo: resultados da ignorância humana
    O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas. Decorridos três séculos da lição santificante de Jesus, surgiram a falsidade e a má-fé adaptando-se às conveniências dos poderes políticos do mundo, desvirtuando-se-lhe todos os princípios, por favorecer doutrinas de violência oficializada. Debalde enviou o divino Mestre seus emissários e discípulos mais queridos ao ambiente das lutas planetárias. Quando não  foram trucidados pelas multidões delinquentes ou pelos verdugos das consciências, foram obrigados a capitular diante da ignorância, esperando o juízo longínquo da posteridade.
  4. Fase evolutiva de aquisição do conhecimento: o Evangelho é rejeitado pelo intelectualismo vigente
    Desde essa época, em que a mensagem evangélica dilatava a esfera da liberdade humana, em virtude da sua maturidade para o entendimento das grandes e consoladoras verdades da existência, estacionou o homem espiritual em seus surtos de progresso, impossibilitado de acompanhar o homem físico na sua marcha pelas estradas do conhecimento. 
  5. Instalação do materialismo na Terra: resultados imediatos do desenvolvimento da inteligência e da tecnologia
    É por esse motivo que, ao lado dos aviões poderosos e da radiotelefonia, que ligam todos os continentes e países da atualidade, indicando os imperativos das leis da solidariedade humana, vemos o conceito de civilização insultado por todas as doutrinas de isolamento, enquanto os povos se preparam para o extermínio e para a destruição. É ainda por isso que, em nome do Evangelho, se perpetram todos os absurdos nos países ditos cristãos. 
  6. Ausência do Cristo na civilização ocidental: crimes hediondos são cometidos
    A realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar. Na França temos a guilhotina, a forca na Inglaterra, o machado na Alemanha e a cadeira elétrica na própria América da fraternidade e da concórdia, isto para nos referirmos tão somente às nações supercivilizadas do planeta. A Itália não realizou a sua agressão à Abissínia, em nome da civilização cristã do Ocidente? Não foi em nome do Evangelho que os padres italianos abençoaram os canhões e as metralhadoras da conquista? Em nome do Cristo espalharam-se, nestes vinte séculos, todas as discórdias e todas as amarguras do mundo. 
  7. Os equívocos do materialismo: lutas e sofrimento contemporâneos
    Ditadores, exércitos, hegemonias econômicas, massas versáteis e inconscientes, guerras inglórias, organizações seculares, passarão com a vertigem de um pesadelo. A vitória da força é uma claridade de fogos de artifício.  Toda a realidade é a do Espírito e toda a paz é a do entendimento do reino de Deus e de sua justiça. 
  8. A manifestação da justiça e misericórdia divinas: a Lei de Causa e Efeito
    O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso rebanho. O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. Os filhos da Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas de lágrimas e de sangue que rebentarão das nuvens pesadas de suas consciências enegrecidas. Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade europeia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir. 
  9. A contribuição do Espiritismo: reajustes morais da Humanidade
    O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua história; só ele pode, na sua feição de Cristianismo Redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos. No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que pesam sobre o seu império perecível.
  10. O que nos reserva o futuro: a vitória do Evangelho
    Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite […]. Todavia, os operários humildes do Cristo ouçamos a sua voz no âmago de nossa alma: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque o reino de Deus lhes pertence! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os aflitos, porque chegará o dia da consolação! Bem-aventurados os pacíficos, porque irão a Deus!” (Mateus, 5). Sim, porque depois da treva surgirá uma nova aurora. Luzes consoladoras envolverão todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento. O homem espiritual estará unido ao homem físico para a sua marcha gloriosa no Ilimitado, e o Espiritismo terá retirado dos seus escombros materiais a alma divina das religiões, que os homens perverteram, ligando-as no abraço acolhedor do  Cristianismo restaurado.  Estejamos, pois, atentos quanto à condução da nossa vida, procurando, nos limites das nossas forças, atender a esse apelo que Emmanuel nos faz: Trabalhemos por Jesus, ainda que a nossa oficina esteja localizada no deserto das consciências. 8 

 

REFERÊNCIAS:

1 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. Antelóquio. 

2 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. Antelóquio.
3 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 25 – O Evangelho e o futuro. 

4 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 25 – O Evangelho e o futuro.

5 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 25 – O Evangelho e o futuro. 

6 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 25 – O Evangelho e o futuro.

7 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 25 – O Evangelho e o futuro.

8 XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 25 – O Evangelho e o futuro. 


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