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Ismael, Espírito guardião do Brasil

Marta Antunes
Trabalhadora espírita vinculada à Federação Espírita Brasileira desde 1980.
Supervisora do programa “O Evangelho Redivivo” – Brasília (DF).

No prefácio do livro Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho —transmitido pelo Espírito Humberto de Campos pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier — constam estas palavras de Emmanuel a respeito da missão do Brasil:

Se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz. […].1 

Em sintonia com essas palavras do benfeitor espiritual, Humberto de Campos declara: “Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas. […].”2 Em seu livro, ora citado, o autor espiritual confirma, não só a missão espiritual do Brasil, como esclarece que Jesus concedeu ao anjo Ismael, a condução dos desafiantes destinos da nosso país para que este se transforme em Pátria do Evangelho:

Nessa abençoada tarefa de espiritualização, o Brasil caminha na vanguarda. O material a empregar nesse serviço não vem das fontes de produção originariamente terrena e sim do plano invisível, onde se elaboram todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho.
Estas páginas modestas constituem, pois, uma contribuição humilde à elucidação da história da civilização brasileira em sua marcha através dos tempos. Têm por único objetivo provar a excelência da missão evangélica do Brasil no concerto dos povos e que, acima de tudo, todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos miseráveis troféus das glórias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução da pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as estrelas da cruz. […].3

Os brasileiros, todos nós, religiosos ou não, deveria conhecer a missão espiritual do nosso país, que assumiu o compromisso de espalhar as luzes do Evangelho de Jesus ao mundo. Recomendamos, portanto, o estudo do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho e, sem qualquer ideia preconcebida, refletir a respeito dos assuntos que a Espiritualidade superior nos revela, em nome do Cristo. É também importante também nos informar um pouco mais a respeito de Ismael, o guardião do Brasil, Espírito que recebeu do Cristo a missão cristianizar nossa nação, em transformá-la em Terra da Promissão, na Terra de todos, onde reinará a fraternidade, pois aqui será a Terra do Evangelho.4

Tudo começou assim:

Todos os Espíritos edificados nas lições sublimes do Senhor se reuniram, logo após o descobrimento da nova terra, celebrando o acontecimento nos espaços do Infinito.
[…]
Uma alegria paradisíaca reinava em todas as almas que comemoravam o advento da Pátria do Evangelho, quando se fez presente, na assembleia augusta, a figura misericordiosa do Cordeiro. 5

Felizes e profundamente emocionados aquele grupo de almas devotadas ao Senhor, “[…] comemoravam o advento da Pátria do Evangelho, quando se quando se fez presente, na assembleia augusta, a figura misericordiosa do Cordeiro.” 6 Jesus apareceu-lhes trazendo consigo “[…] largo estandarte branco, como se um fragmento de sua alma radiosa estivesse ali dentro, transubstanciado naquela bandeira de luz, que era o mais encantador dos símbolos de perdão e de concórdia.”7 Naquele momento de sublimes emoções, Jesus  apresenta-nos o Ismael, o Espírito guardião do Brasil: “Dirigindo-se a um dos seus elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da multidão espiritual, sua voz ressoou com doçura”7:

— Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai. Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo.
Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.7

Em seguida a essa ordenação do Governador Espiritual do Planeta Terra, “Ismael, banhado de lágrimas de reconhecimento, recebe das mãos do Senhor o lábaro bendito das mãos compassivas do Senhor. […] Na sua branca substância, uma tinta celeste inscrevera o lema imortal: “Deus, Cristo e Caridade”.7 

Mas, afinal, quem é Ismael? O que a história registra a respeito de um dos mais elevados mensageiros do Cristo, no orbe terrestre?

As referências mais antigas que temos a respeito de IsmaelIshmael ou Yishma’el, encontram no Antigo Testamento, no livro Gênesis, que o descreve como primeiro filho de Abrão (posteriormente, o patriarca hebreu passou a ser denominado Abraão) com Agar, serva de origem egípcia: A mulher de Abrão, Sarai, não lhe dera filho. Mas tinha uma serva egípcia, chamada Agar, e Sarai disse a Abrão: “Vê, eu te peço: Iahweh não permitiu que eu desse à luz. Toma, pois, minha serva. Talvez por ela, eu venha a ter filhos. E Abrão ouviu a voz de Sarai. Assim, depois de dez anos que Abrão residia na terra de Canaã [terra dos cananeus ou fenícios], sua mulher Sarai tomou Agar, a egípcia, sua serva, e deu-a como mulher a seu marido Abrão. Esse possuiu a Agar, que ficou grávida. (Gen. 16: 1 a 4)8

Entretanto, e ainda de acordo com os registro de Gênesis, com a gravidez de Agar e posterior nascimento de Ismael, estabeleceu-se um ambiente de intrigas, ciúmes e disputas entre Sarai/Sara e a sua serva, a ponto de Abrão dizer à esposa: Pois bem, tua serva está em tuas mãos; faze-lhe como melhor te parecer. Sarai a maltratou de tal modo que ela fugiu de sua presença. (Gen. 16:6)9 Em seguida, Agar foge para o deserto, onde um anjo de Deus, ou Iahweh segundo os judeus, aparece-lhe e dá-lhe as seguintes orientações (Gen. 16:7 a 12) 10:

O Anjo de Iahweh a encontrou Hagar perto de certa fonte no deserto; fonte que está no caminho de Sur. E ele disse: “Agar, serva de Sarai, de onde vens e para onde vais?” Ela respondeu: “Fujo da presença da minha senhora Sarai”.O anjo de  Iahweh lhe disse: “Volta para a tua senhora e sê-lhe submissa. “O anjo de Iahweh lhe disse: “Eu multiplicarei grandemente a tua descendência, de tal modo que não se poderá conta-la. O anjo de Iahweh lhe disse:

“Estás grávida e darás à luz  um filho,
E de tu lhe darás o nome de Ismael, 
Pois Yaweh ouviu tua aflição.
Ele será como potro de homem,
Sua mão contra todos,
A mão de todos contra ele.
Ele se estabelecerá diante de todos os seus irmãos.

Agar retorna à casa de Abrão e Sarai, dá à luz Ismael, cujo nome significa “Deus escutou” e que, segundo as normas existentes, as do direito mesopotâmico11, Ismael passou a ser considerado o filho e herdeiro do casal hebreu. Contudo, os planos de Deus eram outros: anos mais tarde, um anjo aparece ao patriarca hebreu, muda-lhe o nome e o da sua esposa, anunciando-lhe que ela lhe geraria um filho como consta neste registro do citado livro do  Antigo Testamento, capítulo 17:

Quando Abrão completou noventa e nove anos, Iahweh lhe apareceu Senhor e lhe disse: “Eu sou El  Shaddai [antigo nome divino usado na época patriarcal], anda em minha presença e sê perfeito. Eu instituo minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei e extremamente”. E Abrão
Caiu com a face por terra. Deus lhe falou assim: “Quanto a mim, eis  a minha aliança contigo:. Será pai de uma multidão de nações. E não mais chamarás Abrão,  mas teu nome será Abraão, pois eu te faço pai de uma multidão de nações”.
[…]
Deus  disse a Abraão: “ A tua mulher Sarai, não mais a chamarás de Sarai, mas o seu nome é Sara. Eu a abençoarei, e dela te darei um filho; eu a abençoarei, ela se tornará nações, e dela sairão reis de povos”. […]. 12

Antes tais revelações, Abraão acredita, no primeiro momento, que a profecia fazia referência a Ismael, considerando que ele, Abraão, já era bastante idoso para gerar filhos. O mensageiro divino, porém, especifica que, a partir daquele momento, seriam estabelecidas duas grandes descendências do patriarca, as quais viriam constituir os povos monoteístas na Terra: a dos ismaelitas e a dos judeus (Gen. 17: 18 a 20): Abrão disse a Deus: Oh! Que Ismael  viva diante de ti!” Mas Deus respondeu: “Não, mas tua mulher Sara te dará um filho: tu o chamarás Isaac; estabelecerei minha aliança com ele, como uma aliança perpétua com sua descendência depois dele.  Em favor de Ismael também, eu te ouvi: eu o abençoo, o tornarei fecundo, o farei crescer extremamente; gerará doze príncipes e dele farei uma grande nação.13

Os dois irmãos cresceram juntos, mas, quando adultos, seguiram destinos diferentes: Isaac que deu origem às doze tribos de Israel (Ruben, Simeão, Judá, Zebulão, Isacar, Asher, Neftáli, Efraim, Manassé, Gad, Benjamim e Levi). Os  seus descendentes passaram a ser conhecidos como israelitas ou judeus e se instalaram na Palestina, região situada ao sul da Síria. De acordo com outros registros bíblicos, Abraão ainda gerou mais seis filhos com uma mulher de nome Cetura (Zamrã,  Jeesã, Madã, Madiã, Jesboc e Sué), os quais foram viver nas terras situadas mais ao oriente da Palestina (Gen. 25, 1-6).

Ismael e a sua mãe foram morar no deserto de Parã, na Arábia, provavelmente no lugar onde os israelitas passaram parte dos seus 40 anos de peregrinação. Ismael casaria com uma mulher egípcia, com a qual teve 12 filhos que, à semelhança do irmão Isaac, constituiu doze tribos ismaelitas: Nabaiot, Cedar, Abdeel, Mabsam, Masma, Duma, Masmoas, Massa, Hadad, Tema, Jetur, Nafis, e Cedma (Gen. 25, 13 a 15). Os ismaelitas habitaram a região situada entre o rio Eufrates e o Mar Vermelho, a leste do Egito, na direção da Assíria (Gen. 25:18). 

Vemos, assim, que judeus, ismaelitas, árabes ou não, e outros povos descendentes de Abraão são, todos eles, semíticos (de Sem, filho de Noé), pois possuem a mesma raiz genética, cultural e linguística. Os povos semíticos abrangem os arameus, assírios, babilônios, sírios, hebreus, fenícios (cananeus) e caldeus.14 Todavia, ainda hoje, vemos religiosos ortodoxos considerarem judeus “puros” os descendentes diretos de Abraão e Sara, os membros da tribo de Judá — de onde nasceram Davi, Salomão e, também, José, pai de Jesus. Da mesma forma, os ismaelitas ou árabes “puros”, seriam os descendentes de Ismael, conhecidos como catanitas. Possivelmente, os catanitas seriam descendentes da tribo de Nabaiot, o primeiro filho de Ismael, que  viveram no sul da Arábia, em Catã, uma região localizada depois do Iêmen. 

A maioria dessas informações é encontrada no Talmute e em textos extrabíblicos, inclusive no Alcorão e no Targun — conjunto de traduções do aramaico de comentários da Bíblia hebraica.

Ante a urgente missão de implantar o Evangelho no íntimo de cada pessoa  e fazer cumprir a profecia do Cristo de que na humanidade terrestre “haverá um só rebanho e um só pastor” (João, 10:16), esforcemo-nos para seguir estes sábios conselhos de Ismael:

[…] Avante, caravaneiros da Pátria do Evangelho! Não permitais que o homem velho sufoque o novo que surge das páginas do Livro Santo! Que a Humildade seja a vossa primordial arma, a exemplo de Jesus. Que a Renúncia, amigos, vos secunde em todos os atos para buscardes e terdes em vós o Reino dos Céus. Jamais impere o personalismo em vossos corações. Todas as vezes que a luta pela conquista do bem se vos tornar áspera e encontrardes dificuldades em vencê-la, orai, amigos da caravana que se não extingue. Orai! 
[…]
As lutas terão que atingir-nos incessantemente. Todavia, se tivermos Jesus no coração, a fé que remove montanhas e a consciência tranquila do dever bem cumprido — diante da dor nada deveremos temer. Caminharemos sempre.[…]
Que jamais irmãos movidos pelo mesmo ideal se entrechoquem, por não haver Tolerância, por não haver renúncia, por não haver humildade.
[…]
Se minhas palavras vos merecerem fé, guardai-as em vossos corações. Cheguem elas, se possível, a todos quantos se interessam pela Paz e pela Harmonia universais. […].15

Referências

  1. XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo Espírito Humberto de Campos. 33 ed. 4 imp. Brasília: FEB, 2013. Prefácio, p.8.
  2. _______. It. Esclarecendo, p.10.
  3. _______. p.11.
  4. FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Mensagem do Espírito Ismael. Grupo Confúcio, 1873.

http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/noticias/brasil-a-terra-do-evangelho/    

  1. XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo Espírito Humberto de Campos. 33 ed. 4 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 3, p. 25.
  2. ________. p. 25-26.
  3. _______. p. 27.
  4. BÍBLIA DE JERUSALÉM.  Coordenadores da edição em língua portuguesa: Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson. Diversos tradutores. 1 ed. 13 imp. Nova edição,  revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2019. Gênesis, 16: 1-4, p. 53-54.
  5. _______. Gênesis, 16: 6, p. 54.
  6. _______. Gênesis, 16: 7-12, p. 54.
  7. _______. Nota de rodapé “f”, p. 53-54.
  8. _______. Genesis, 17: 1-5; 15, p. 54-55.
  9. _______. Genesis, 17: 18-20, p. 55.
  10. DAVIS, John. Novo dicionário da bíblia. Ampliado e atualizado. Trad. J.R. Carvalho Braga. São Paulo: Hagnos, 2005. Verbete: Semíticas, p.1136.

15. GIFFONI, Olympio. Mensagem de Ismael (de regozijo pela assinatura do Pacto Áureo), em 5 de outubro de 1949. In: Reformador, outubro 1999 Rio de Janeiro: FEB.


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